Inferno - Cap. 29: Capítulo 29 Pág. 87 / 102

O bom mestre virou-se para mim, dizendo: «Diz-lhes o que pretenderes.» E eu comecei, após ele se voltar: «Que a vossa memória se não desvaneça no mundo primeiro das gentes humanas, mas antes durante muitos anos viva! Dizei-me quem sois e de que pátria. Que a vossa vergonhosa e repelente pena vos não faça temer comigo falar.» «Eu fui de Arezzo, e Albero de Sena», um respondeu, «condenou-me à morte na fogueira; mas não foi a causa pela qual morri que aqui me conduziu. É certo que lhe disse, como quem o diz brincando: 'Seria capaz de me elevar nos ares e voar', e ele, que tinha curiosidade a mais e senso a menos, quis que tal arte ali lhe demonstrasse e, só porque dele um Dédalo não fiz me mandou queimar por um que o tinha como filho. Mas no último dos dez fossos estou pela alquimia que no mundo pratiquei. A isso foi que me condenou Minos, a quem não é permitido errar.»

E eu disse ao poeta: «Houve alguma vez gente mais vá que a de Sena? A verdade é que nem a de França tanto o é!» Então, o outro leproso, que me ouviu, às minhas palavras respondeu: «Exclui Stricca, que soube ser módico nos gastos, e Niccolò, que foi o primeiro a descobrir a aplicação na culinária do cravo dos jardins onde medre tal somente, e ainda o bando em que Caccia de Acciano dissipou seu vinhedo e os grandes bosques e o Abbagliato demonstrou quanto senso tinham. Mas, para que saibas quem contra os Senenses te secunda, fixa em mim bem os olhos, para que a minha face te responda cabalmente: assim verás que sou a sombra de Capocchio", que por meio da alquimia os metais falsifiquei, e deves recordar, se bem te reconheço, como da natureza fui bom imitador.»





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