1984 - Cap. 17: Capítulo XVII Pág. 202 / 309

As três potências continuam produzindo bombas atômicas, e as guardam à espera da oportunidade decisiva que aguardam para mais cedo ou mais tarde. Entrementes, a arte da guerra permaneceu quase estática durante trinta ou quarenta anos. Usam-se mais helicópteros do que antigamente, os aviões de bombardeio foram em grande parte substituídos por projéteis auto-impelidos, e o frágil encouraçado móvel deu lugar à quase insubmergível Fortaleza Flutuante; fora isso, foi pequeno o desenvolvimento. O tanque, o submarino, o torpedo, a metralhadora, e até o fuzil e a granada de mão continuam sendo usados. E apesar dos infindos morticínios comunicados pela imprensa e as teletelas, nunca se repetiram as batalhas desesperadas das guerras anteriores, em que centenas de milhares e até milhões de homens eram às vezes mortos em algumas semanas. Nenhum dos três estados tenta qualquer manobra que envolva o risco d'uma séria derrota. Quando empreendem uma operação de grande envergadura, é em geral um ataque de surpresa a um aliado. É a mesma a estratégia seguida pelas três potências, ou pelo menos as que fingem seguir.

O plano prevê, pela combinação de luta, trocas e oportunos golpes de traição, a aquisição de uma série de bases que circundem completamente um ou outro rival, e então assinar um pacto de amizade com esse rival, permanecendo em paz com ele o tempo suficiente para que as suspeitas esmoreçam. Durante esses anos de espera, foguetes carregados de bombas atômicas podem ser acumulados em todos os pontos estratégicos; serão por fim disparados simultaneamente, com efeitos tão devastadores que é impossível retaliar. Surge então o momento de assinar um tratado de amizade com a terceira potência mundial, preparando outro ataque.





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