Madame Bovary - Cap. 4: IV Pág. 30 / 382

Conforme a diferente posição social de cada um, assim vestiam casaca, sobrecasaca, jaqueta ou paletó: bons fatos, conservados com toda a estimação pelas famílias e que só saíam dos armários em ocasiões solenes; sobrecasacas de grandes abas flutuantes, gola cilíndrica e bolsos grandes como sacos; paletós de tecido grosso, a acompanhar normalmente bonés com palas orladas de nietais amarelos; casacas curtíssimas, tendo nas costas dois botões muito juntos, fazendo lembrar um par de olhos, e cujas abas pareciam cortadas de um só golpe pelo machado de um carpinteiro. Alguns, ainda (más esses, evidentemente, deviam tomar lugar às cabeceiras da mesa), tinham blusas de cerimónia, isto é, com a gola voltada sobre os ombros, as costas enrugadas com preguinhas e a cintura marcada muito em baixo por um cinto cosido.

E as camisas arqueavam no peito como couraças! Toda a genre estava tosquiada de fresco, mostrando as orelhas salientes, as barbas bem rapadas; e até alguns que se tinham levantado antes do amanhecer, sem luz suficiente para se barbear, ostentavam golpes em diagonal por baixo do nariz ou, espalhados pelo queixo, grandes esfoladelas na pele, do tamanho de escudos de três francos, inflamadas pela fricção do vento durante a viagem, enchendo de manchas avermelhadas todos aqueles grosseiros rostos descontraídos.

Como o registo civil ficava a cerca de meia légua da fazenda, fez-se o percurso a pé e voltou-se do mesmo modo, após a cerimónia na igreja. O cortejo, inicialmente unido como uma única faixa colorida, ondulando pelo campo, ao longo da estreita vereda que serpeava entre os trigos verdes, logo se alongou e dividiu em grupos diferentes, que se atrasavam a conversar. O músico seguia na frente, com a sua rabeca engalanada de fitas; logo atrás vinham os noivos, depois os parentes e amigos agrupados ao acaso, ficando as crianças para trás, divertindo-se a arrancar as campainhas da aveia, ou a brincar umas com as outras sem serem vistas.





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