V Era quinta-feira. Ela levantava-se e vestia-se silenciosamente, para não acordar Charles, que lhe teria feito notar o facto de que se levantava demasiado cedo. Depois caminhava para trás e para diante; chegava-se à janela e ficava a olhar para a praça. A claridade do amanhecer circulava entre as colunas do mercado e na casa do farmacêutico, com as persianas ainda cerradas, começavam a perceber-se as maiúsculas do letreiro.
Quando o relógio marcava as sete horas e um quarto, dirigia-se para o Leão de Ouro, onde Artémise, bocejando, lhe vinha abrir a porta. A rapariga revolvia, para a senhora, as brasas enterradas nas cinzas. Emma ficava só na cozinha. De vez em quanto saía. Hivert aparelhava a diligência sem se apressar, prestando, além disso, atenção à Tia Lefrançois, que, passando pelo postigo a cabeça com o barrete de dormir, o encarregava de uma data de coisas e lhe dava explicações que chegariam para atrapalhar qualquer outro homem. Emma batia com a sola das botinas nas lajes do pátio.
Finalmente, depois de ter comido a sua sopa, envergado o sobretudo, acendido o cachimbo e empunhado o chicote, Hivert instalava-se vagarosamente na boleia.
A Andorinha partia a trote curto e, no trajecto de quase uma légua, parava de lugar em lugar para tomar passageiros que a esperavam de pé, à beira do caminho, diante das cancelas dos pátios. Os que tinham avisado na véspera faziam-se esperar; alguns estavam mesmo ainda em casa, na cama; Hivert chamava, gritava, praguejava, depois descia do assento e ia dar grandes pancadas às portas. O vento assobiava nos postigos quebrados.
Entretanto, os quatro bancos iam-se enchendo, a carruagem rodava, as macieiras iam-se sucedendo em fila; e a estrada, entre as duas compridas valetas cheias de água barrenta, ia-se continuamente estreitando para o horizonte.