X Só recebera a carta do farmacêutico trinta e seis horas depois do acontecimento; e, por consideração para com a sua sensibilidade, Homais redigira-a de tal modo que era impossível saber com o que contar.
Primeiro o pobre homem caiu como se lhe tivesse dado um ataque de apoplexia. Depois compreendeu que ela não estaria morta. Mas podia afinal estar... Por fim enfiara uma camisola, pusera o chapéu, afivelara uma espora no sapato e partira a toda a brida; durante todo o trajecto, o Tio Rouault, ofegante, consumia-se de angústias. Uma vez mesmo foi obrigado a parar. Já não via nada, ouvia vozes à sua volta, sentia-se enlouquecer.
Nasceu o dia. Avistou três galinhas pretas a dormir numa árvore; estremeceu, aterrado por aquele presságio. Então ofereceu à Virgem três casulas para a igreja e fez a promessa de ir descalço desde o cemitério dos Bertaux até à capela de Vassonville.
Entrou em Maromme brdando pela gente da estalagem, arrombou a porta com os ombros, correu -ao saco de aveia, esvaziou na manjedoura uma garrafa de sidra doce e voltou a montar o potro, fazendo-o ferir lume com as quatro ferraduras.
Ia pensando que talvez a conseguissem salvar; os médicos encontrariam um remédio. Lembrava-se de todas as curas milagrosas que lhe tinham contado.
Depois via-a já morta. Ali, diante dele, estendida de costas, no meio da estrada. Puxava as rédeas e a alucinação desaparecia.
Em Quincampoix, para cobrar ânimo, bebeu três cafés, um atrás do outro.
Pensou se não se teriam enganado a escrever o nome. Procurou a carta no bolso, achou-a, mas não teve coragem de a abrir.
Chegou a imaginar que poderia ser uma partida, uma vingança de alguém, uma fantasia de algum brincalhão; além disso, se ela tivesse morrido, não se saberia já? Mas não! O campo não tinha nada de extraordinário: o céu estava azul, as árvores oscilavam; passava um rebanho de ovelhas.