III Foram três dias plenos, deliciosos, esplêndidos, uma autêntica lua-de-mel.
Instalaram-se no Hotel de Bolonha, que ficava no cais. E ali viveram, de persianas fechadas, portas trancadas, rodeados de flores e de xaropes gelados, que lhes levavam logo de manhã.
À tarde metiam-se num barco coberto e iam jantar a uma ilha.
Era a hora a que se ouvia, perto dos estaleiros, bater o maço dos calafates contra os cascos dos navios. O fumo do alcatrão erguia-se por entre as árvores e viam-se no rio grandes manchas oleosas ondulando irregularmente sob a cor púrpura do sol, como placas de bronze florentino que flutuassem.
Desciam por entre os barcos amarrados, cujos longos cabos oblíquos roçavam a amurada da embarcação.
Os ruídos da cidade iam-se insensivelmente afastando, o rodar das carroças, o tumulto das vozes, o ladrar dos cães sobre as pontes dos navios. Ela desatava o chapéu e chegavam à sua ilha.
Entravam na sala baixa dum restaurante que tinha redes de pesca penduradas à porta. Comiam salmão frito, creme e cerejas. Deitavam-se na relva; iam beijar-se para debaixo dos álamos; e, como dois Robinsons, desejariam viver perpetuamente naquele lugar, que lhes parecia, na sua ventura, o sítio mais magnífico da Terra. Não era a primeira vez que viam árvores, céu azul, relva, que ouviam a água correr e a brisa soprar na folhagem; mas nunca tinham, sem dúvida, admirado tudo aquilo, como se a natureza não existisse antes, ou tivesse começado a ser bela só depois da satisfação dos seus desejos.
À noitinha regressavam. O barco seguia a borda das ilhas. Eles sentavam-se no fundo, ambos escondidos na sombra, sem falar. Os remos quadrados faziam barulho nos toleres de ferro; e isso, no silêncio, fazia o efeito da marcação de um metrónomo, enquanto à ré, a balsa, a reboque, produzia na água um marulhar doce e contínuo.