Madame Bovary - Cap. 11: II Pág. 92 / 382

" Bovary, falando com o rapaz.

- Oh!, bem poucos - respondeu ele. - Há um sítio que chamam O Pasto, no alto da encosta, na orla da floresta. Às vezes, ao domingo, vou lá e entretenho-me a ler um livro e a ver o pôr do Sol.

- Acho que não há nada tão admirável como um pôr do sol - continuou ela -, mas sobretudo à beira-mar.

- Oh!, eu adoro o mar - disse Léon.

- E não lhe parece também - replicou a Sr.a Bovary - que o espírito voga mais livremente sobre essa extensão sem limites, cuja contemplação nos eleva a alma e comunica ideias de infinito, de ideal?

- Acontece o mesmo com as paisagens de montanha - retorquiu Léon. - Tenho um primo que o ano passado viajou pela Suíça e me dizia que não era possível imaginar-se a poesia dos lagos, o encanto das cascatas, o gigante efeito dos glaciares. Vêem-se pinheiros de um porte inacreditável atravessados nas torrentes, cabanas suspensas sobre precipícios e, quando as nuvens se entreabrem, vales inteiros mil pés abaixo de nós. Esses espectáculos devem entusiasmar, predispor para a oração e para o êxrase! Por isso já não me admiro daquele célebre músico que, para excitar melhor a imaginação, tinha o hábito de ir tocar piano diante de qualquer paisagem majestosa.

- O senhor cultiva música? - perguntou ela.

- Não, mas aprecio-a muito - respondeu ele.

- Oh!, não lhe dê ouvidos, Sr. Bovary - interrompeu Homais, debruçando-se sobre o prato - é pura modéstia. Então, meu caro, não é verdade que rio outro dia o ouvi a cantar magnificamente, no seu quarto, o Anjo da Guarda? Eu estava no meu laboratório e você arrancava as notas como um actor.

Léon, efectivamente, estava hospedado em casa do farmacêutico, onde ocupava um pequeno quarto no segundo andar, do lado da praça.





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