Eurico, o Presbítero - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 101 / 186

— Qual de vós outros, cavaleiros — dizia Pelágio aos que o rodeavam —, duvidará um momento de que, se um mensageiro chegasse e lhe dissesse: «vossa esposa, vossa filha, vossa irmã caiu em poder de infiéis», eu hesitasse em ir ajudá-lo a arrancar essa vítima querida à bruteza cruel dos pagãos? Nenhum; porque mais de uma vez tenho arriscado a vida para curar saudades e amarguras dos desterrados como eu. Deu-me o céu uma irmã; deu-me o último suspiro de meu pai uma filha; deu-me a ternura por essa virgem, cuja imagem vive eterna neste coração virgem como ela, uma esposa. Quando a triste inocente vinha abrigar-se à sombra do escudo de seu irmão, os infiéis roubaram-ma. Viúvo e órfão, apelo para os últimos corações generosos da Espanha. Por Deus, que me ajudeis a salvar a minha pobre Hermengarda. Como tua filha Brunilde, ela é formosa, Gudesteu! Como tua esposa Elvira, ela é boa e carinhosa, Algimiro! Como tua irmã, Múnio, ela é inocente e pura. Godos, por tudo quanto amais, salvai-a, salvai a mesquinha!

O nobre esforço do mancebo desaparecera ante a ideia dolorosa da sorte que a Providência reservara à desventurada filha de Fávila. Ele estendia as mãos unidas para os cavaleiros, como uma criança tímida que implora compaixão.

— Partamos! — exclamaram ao mesmo tempo os nobres foragidos. — Tua irmã será salva ou nenhum de nós voltará mais à gruta de Covadonga!

Uma voz trémula, mas retumbante, trovejou por detrás deles:

— Não partireis daqui! Voltaram-se. Era o gardingo.

— Quem o ordena? — bradou Pelágio, com toda a energia que esta inesperada resistência despertara subitamente nele.





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