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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 102

— Um homem — replicou o desconhecido, atravessando o círculo dos guerreiros que rodeavam o duque de Cantábria e lançando em volta olhos altivos —; um homem cujo coração é há longo tempo morto, porque as paixões o queimaram; mas cuja inteligência por isso mesmo é mais fria. Quantos sois vós? Quantos bucelários dormem pelas tendas desse vale? Apenas alguns centenares de lanças poderiam, ao todo, transpor convosco os passos das serras. Os infiéis e os renegados que os servem quantos são? Se podeis contar as estrelas que ora recamam o céu, podereis dizer-me o número deles. Tu, Pelágio, braço de ferro, coração de bronze, quem és tu? O guardador das últimas esperanças da Cruz e da pátria. Quem te deu, pois, o direito de correres a morte certa? Quem te deu o direito de apagar no sangue dos últimos godos o único facho que alumia as trevas do futuro da escravizada Espanha?

— E a ti — interrompeu furioso e arrancando meia espada o violento Sanción —, quem te incumbe de nos dizeres: «não saireis daqui»?

Quem és tu, que, vindo não sei donde, pretendes dominar como senhor aqueles que só obedecem a Deus?

O desconhecido olhou para o movimento ameaçador de Sanción, e pelo rosto passou-lhe um sorriso desdenhoso. Cruzou os braços e respondeu com voz lenta e solene:

— Por minha boca falaram milhares de godos que gemem no cativeiro e que voltam de contínuo os olhos para os cerros das Astúrias, onde apenas fulgura ténue o santo fogo da liberdade: falaram por minha boca as aras do Senhor calcadas pelos pés dos pagãos, as imagens de Cristo derribadas no lodo, os muros enegrecidos das cidades incendiadas. É isto tudo que vos diz: «não saireis daqui!» Perguntas quem sou? Dir-to-ei. O último homem que, junto do Chrysus, viu, combatendo, a face dos árabes vencedores, enquanto os valentes fugiam; o homem que tentou morrer com a pátria, e que a mão de Deus salvou para neste momento vos dizer: «não saireis daqui!» Queres saber quem eu sou? Lê, Pelágio, o que escreveu aí Teodemiro. Dize-lhe depois qual é o meu nome.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176