Eurico, o Presbítero - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 141 / 186

E o ruído soava, de feito. Os dois cavaleiros nem respiravam. Era um tropear de cavalos à rédea solta: não havia que duvidar. Para eles em alguns instantes se resumiu, então, um século de transes mortais.

São nove: nove os que saem da espessura, correndo desordenados, e que se precipitam para as ruínas. São godos! Os largos ferros dos franquisques lá reluzem, batendo-lhes sobre as coxas no rápido galope: o lodo dos brejos enodoa-lhes as armas escuras e polidas. Ondeiam erriçadas as crinas dos corcéis, cujos peitos mosqueia a escuma, cujos freios tinge o sangue. O misterioso cavaleiro negro vem à frente deles.

— Ei-los! — brada Astrimiro, com uma espécie de alegria frenética. — Estão salvos!

— Salvos!? — interrompeu tristemente Gudesteu e, sem se mover, olhou para Astrimiro e, depois, para Hermengarda, que sustinha nos braços.

— Perdidos! perdidos connosco e como nós! — replicou em tom lúgubre Astrimiro, para quem a interrupção e o olhar de Gudesteu tinham sido raio de luz medonha. O Sália era a linha traçada pela feiticeira com a verbena mágica, além da qual não passará jamais aquele ante cujos pés ela a riscou. O juramento que tinham dado e, mais do que isso, a lealdade de guerreiros godos não lhes consentiam abandonarem a irmã do seu capitão; não lho consentiria o fero cavaleiro negro, esse homem ou esse fantasma, cuja vida era um segredo, cuja vontade era de ferro, cuja voz era um terror para inimigos e, para os seus, um decreto de cima.

E os nove num relance transpuseram o valo, galgaram a ladeira e atiraram-se de tropel ao meio das ruínas do arraial romano. O cavaleiro negro foi o primeiro em desmontar; os outros oito imitaram-no.





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