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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 140

E Hermengarda sentia uma ânsia de se atirar àquela voragem; uma como atracção magnética, voluptuária, indizível, a favor da qual lutava um sentimento misterioso e vago, mas que nem por isso era menos ardente, ao mesmo tempo que alma e corpo a repeliam pelo instinto e pelo amor da vida. Com as mãos contraídas, a fronte pendida e o olhar incerto de um moribundo, a donzela parecia haver sido petrificada no momento em que dera a primeira passada para transpor essa meta, além da qual, unicamente, existia a esperança.

Observando o gesto da irmã de Pelágio, Gudesteu viu que um instante bastaria para aniquilar o fruto dos perigos até aí corridos. Mais de uma vez, antes que se habituasse à sua vida de foragido, passando pelas bordas dos fojos, pelas quinas dos precipícios, ele próprio sentira essa fascinação do terror, esse magnetismo da morte que costuma subjugar-nos e atrair-nos quando pelas primeiras vezes nos achamos sobranceiros a algum abismo; sentimento de voluptuosidade dolorosa, que, paralisando-nos os movimentos, porque dobra em nós o terror, nos salva, talvez, do suicídio, ao mesmo tempo que para ele nos convida com atractivo inexplicável.

O cavaleiro, segurando violentamente o braço da donzela, desfez aquela espécie de encanto fatal, obrigando-a a recuar alguns passos. Então Hermengarda, como se acordasse de um sonho, murmurou: «Não posso!» E soluçava, e as lágrimas rolavam-lhe abundantes pelas faces macilentas. Em tremor convulso, os joelhos vergavam- -lhe, e teria caído por terra, se Gudesteu não a houvera retido.

Astrimiro, que vira o movimento do seu companheiro, atravessou de novo a arriscada passagem. Um pensamento horrível passou a ambos pelo espírito: era que os árabes podiam chegar! Encararam-se mutuamente, e cada um deles notou que o outro tinha o gesto demudado. Gudesteu, volvendo a cabeça, lançou os olhos para a selva de que haviam saído, porque lhe parecera ouvir um rumor abafado. Astrimiro, que crerá ouvir o mesmo, correu de novo ao valo.

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pág. 140 (Capítulo 16)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 140

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176