Eurico, o Presbítero - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 150 / 186

Gutislo desapareceu. Daí a alguns momentos, o centenário entrava.

Era um guerreiro, cujos cabelos brancos, cujos meneios pausados e cujo olhar penetrante davam testemunho de prudência e discrição. Parecia inquieto e assustado.

— Que novas nos trazes, Velido? Qual caminho seguem os árabes?

— O que prouvera a Deus eles nunca houvessem encontrado. Ao amanhecer os cavaleiros africanos beberão as águas do Deva; os sons das trombetas agarenas ouvir-se-ão retumbar pelas encostas de Concana e ecoarão nos alcantis do Auseba. Vagueámos dispersos a tarde inteira e a maior parte da noite. Pelas alturas do sul e do oriente reluziam ao longe as armas dos infiéis, e depois as suas almenaras. Os pastores astúrios, que já nos esperavam no vale de Onis, onde todos os esculcas se ajuntaram à hora da terça nocturna, nos relataram então o que, sumidos por entre as brenhas, tinham podido observar de perto...

— E quais foram as novas dos pegureiros? — interrompeu vivamente Pelágio. — São muitos ou poucos os inimigos? A que distância se acham?

— Pouco depois do amanhecer devem ter descido os últimos outeiros do Vínio, e quando o Sol brilhar em todo o seu esplendor poderão pisar o solo, até hoje livre, do vale de Covadonga. Os pastores viram os nossos cavaleiros transporem o Sália: viram despenhar- se o roble, e os infiéis recuarem espantados. Mas, esquadrões após esquadrões desciam das montanhas, e dentro em breve na margem do rio não se descortinavam por grande espaço senão tropéis de árabes. Ao pôr do Sol ainda as gargantas das serranias golfavam torrentes de infiéis, e as selvas retumbavam com os golpes de machado. Antes de anoitecer, uma ponte espaçosa estava lançada sobre o Sália num sítio menos profundo, e os inimigos começavam a atravessá-la. Entre os primeiros que passaram aquém, asseguram os zagais terem visto muitos cavaleiros que, pelos elmos e couraças, pelas cateias e franquisques, eram, sem dúvida, godos.





Os capítulos deste livro