Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 12: Capítulo 12

Página 72

No centro do imenso edifício erguia-se o templo monástico: peça quadrangular, construída de grossos cantos de mármore, arrancados das pedreiras inesgotáveis que se estendem desde os Nervásios até às cercanias de Légio. No exterior do templo, do meio dum vasto pátio que o rodeava, viam-se negrejar na sua cinta de estreitas celas as vestiduras severas das monjas, cuja oração contínua, quer em comum no santuário, quer na solidão das suas breves moradas, só era interrompida por sono curto, dormido sobre a dura enxerga da penitência. Esta parte do mosteiro era a que elas unicamente ocupavam havia alguns dias. Os seus claustros pacíficos e saudosos, onde nunca soara o ruído tormentoso da vida, onde nunca as dolorosas realidades do mundo haviam penetrado, salvo nos sonhos passageiros e dourados de algum coração mais ardente, restrugiam com o bater das armas, com o amontoar das provisões, com o carpir dos que abandonavam os seus lares, com a violenta e brutal linguagem da soldadesca. No meio daquela vasta mole de pedra, em que os sons discordes reboavam, ecoando soturnos nas arcadas e corredores profundos, o templo, aonde se acolhera a quietação monástica, era como um oásis frondoso e abrigado pelos seus palmares no meio do deserto que o sopro infernal do simum revolve, fazendo redemoinhar nos ares aquele oceano de areia fervente.

Era ao anoitecer de um dia de Novembro. Por entre o nevoeiro cerrado que, alevantando-se do vale vizinho, trepava pela encosta, deixando apenas livres as negras agulhas dos cerros, lá no viso da montanha, divisavam-se a custo as ameias e muralhas à luz baça do crepúsculo, refrangida em céu pardo e húmido. A brisa morna de oeste gemia nos troncos dos castanheiros nus, nas ramas esguias dos pinheiros bravos, e as passadas monótonas dos vigias ao longo dos adarves formavam um concerto acorde com o aspecto melancólico do céu e da terra.

A esta hora duvidosa entre a claridade e as trevas, uma numerosa cavalgada atravessava o ribeiro no fundo do vale e encaminhava- se para o Mosteiro da Virgem Dolorosa. Dez cavaleiros, cujas barbas alvas lhes caíam sobre o peito, saindo por baixo das redes de ferro que lhes serviam de gorjal, rodeavam uma dama cujo rosto ocultava o comprido véu que, pendente do retíolo, lhe descia sobre o alvo amículo, mas cujos meneios airosos e talhe esbelto revelavam nela o viço e as graças da idade juvenil.

<< Página Anterior

pág. 72 (Capítulo 12)

Página Seguinte >>

Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 72

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176