E que pensava Alexandre Pimentel, vendo, se via, a viscondessa na janela? Umas vezes ia pensando nas leis dos Turdetanos escritas em verso, ou na distinção ainda incerta de procônsules e protutores. Outras vezes nos doze livros da Lex Wisigothorum, ou na coleção dos Cânones dos concílios. Alma regurgitada de sabenças tamanhas, apenas surgiria da sua modorra se a viscondessa caísse da janela à rua, ou desse dez-réis a cinco pobres. Aqui está. A indiferença do literato não mareava a incontestável beleza da fidalga. Era Afonso V de Ledo ou S. Martinho de Dume ou qualquer fantasma deste porte e tomo que o divertiam de pôr os olhos humildes no formoso osso dos cem cães.
A liberdade veste de asas a paixão e dá trela à ave daninha até onde ela se libra. A viscondessa perguntou ao Mesquita, condiscípulo do escritor, se lhe descobria a residência de Alexandre.
- Hoje, se vossa Excelência não quer que seja já.
- Quando puder.
Mesquita foi à Biblioteca e disse ao espanejador do pó dos in-fólios:
- Tenho um livro para te mandar.
- Que é?
- Não lhe sei o título. Trata das leis que trouxeram à Lusitânia uns vândalos chamados silingos.