O Retrato de Ricardina - Cap. 26: CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO Pág. 162 / 178

- Paulo de Campos.

- Onde reside?

- Num hotel particular, Rua Augusta, nº 52, terceiro andar.

- Quando quer o Sr. Campos começar a auxiliar-me?

- Quando Vossa Excelência ordenar.

- Seja amanhã, se lhe não desconvém. Desde as nove da manhã até depois do meio-dia; e, se lhe aprouver, reservaremos algum pouco da noite para praticarmos em assuntos adequados ao nosso empenho. Permita-me dizer-lhe que reputo este auxílio no valor de cem mil réis mensais.

- É mais que generosa remuneração.

- Sr. Paulo de Campos, até amanhã.

Saiu alegremente o advogado do ultramar, e foi ao hotel, onde o esperava um velho que representaria 68 a 70 anos.

- Dá-me os parabéns, Norberto! - disse Bernardo Moniz.

- Arranjou-se? - exclamou o Calvo com jovial aspeto.

- Melhor do que eu pensava... Cem mil réis por mês! Olha tu o que aí vai de dinheiro, e em que ocasião Deus se compadeceu de nós!... Já não é necessário vender o teu diamante, ouviste? Guarda-o para os teus sobrinhos. No mês que vem já temos dinheiro para ires à Beira saber o que é feito de tanta gente. Dos meus sei eu que tudo está morto, e que o meu irmão mais velho vendeu as poucas terras aos dois irmãos do Brasil. Tive hoje um casual encontro com quem mo disse.

- Mas a riqueza que há de estar nas ruínas da casa? - observou Norberto.

- Sobre as ruínas da casa levantaram meus irmãos um palacete. A quem pediremos nós os baús do meu pai?! Meu amigo, convence-te de que o teu Bernardo apenas vive na tua alma; que para tudo mais morreu. Não me fales em riquezas... Diz-me somente que busque agenciar o teu pão e o meu. A mim que me servia hoje ser rico? Velho, sem nome, sem parentes, sem amigos... A morte não me quer.

- Que a leve o Diabo! Se eu não arranco Vossa Senhoria de Luanda, lá esticava a canela com trinta milhões de.





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