Admirável parcimónia de imaginação! Espetáculos tão esplêndidos e alma tão capaz de inspirar-se da beleza deles, davam de si tão pouco! Sempre as mesmas árvores, o mesmo mirante, o silvedo com o mesmo ninho, e uma só imagem infantil a dar relevo à monotonia das suas cópias! Vinha a ser esta pobreza de fantasia, uma exuberância de tesouros do coração. Era amor do tempo em que ele, debaixo do mantéu áspero de pastor de pobre rebanho, escondia as asas do anjo, que, a espaços, o remontavam onde ele pensava que o erguiam sonhos.
Aos 12 anos era Bernardo ainda o pegureiro das ovelhas da arribana paterna. Guiava-as aos montados em frente da residência de Espinho. Na volta da noite, passava o ribeiro, e rodeava o passai do abade. Então acontecia ver na orla do regato Ricardina espreitando o ninho da toutinegra, ou sentada no cruzeiro; alguma hora no miradouro, e uma só vez no caramanchel enflorando o cabazinho da fruta, quando ele foi chamar o abade para sacramentar sua mãe.