Mas - audaz pastorinho - que doida inocência foi essa a tua de levares retratada no coração a peregrina imagem da menina tão distante do teu mesquinho nascimento, e das palhas onde pequenino choravas, sem mimos que te acalentassem?
Aos 14 anos, poderia ele responder, apontando os seus quadros imperfeitos: “Eu andava então entesourando estas memórias, com que a alma vem hoje auxiliar a arte. O aproveitamento que me louvam é o coração que mo ensina, é a saudade que faz esta luz e sombras, este quê inexplicável em que cismo e choro.” Tal era, e destas puerilidades afetivas vivia Bernardo Moniz, quando o pai lhe disse: “Escolhe outro modo de vida, que estamos ricos, louvado Deus!”
- Que tem que estejamos ricos?... Serei pintor.
- Não quero. Hás de ser o que os teus irmãos querem ser. António escolheu ser médico; Francisco quer ser doutor-padre; e tu, vê lá... Queres ser doutor de leis?
- O que o meu pai quiser.
- Então é já para Coimbra com os teus irmãos.
E partiram os três estudantes em 1820 para Coimbra começar humanidades. Bernardo ganhou prodigiosa vantagem aos irmãos e condiscípulos bem que intervalasse o estudo com exercícios de desenho, cada hora mais aprimorado. Era bom de graduar-lhe o progresso, porque os desenhos, como em Lisboa. saíam sempre os mesmos: Ricardina o ninho, o mirante o cruzeiro, a gruta, e o cabaz dos pêssegos. Os irmãos riam-se, e diziam entre si: “Não sabe mais nada!”
Nas férias grandes do 1º ano, Bernardo foi a casa. O abade de Espinho maravilhou-se da latinidade do jovem, quando o viu desfazer as dificuldades do Eutrópio, defesas ao examinador. E tanto assim que disse a D. Clementina:
- Quem diria que daquele cepo do Silvestre da Fonte havia de sair um filho esperto! Desconcerto