O Retrato de Ricardina - Cap. 6: CAPÍTULO VI – AGONIAS Pág. 32 / 178

CAPÍTULO VI – AGONIAS

- A tua mãe onde está? - perguntou o abade a Ricardina.

- Penso que está na sala de costura.

- Que venha à minha saleta.

Clementina, ao perpassar pela filha, segredou-lhe:

- Não to disse eu? Falta um dia.

- Anime-se, minha mãe... Diga-lhe que vou satisfeita para qualquer convento.

Padre Leonardo passeava ofegante ao comprido e através da espaçosa quadra.

- Queres saber uma grande maroteira? - bradou ele, assim que a senhora pisou o limiar da porta.

- Que é?

- Estava eu na sacristia, quando Bernardo Moniz entrou na igreja e foi direito a mim. Perguntei-lhe o que queria. Respondeu que o escutasse com sossego e bondade.

- Fale lá, que eu estou sossegado! - disse-lhe eu. Pespega-me ele então um grande aranzel, com as bagadas a cair-lhe pela cara, e acabou por me pedir Ricardina.

- E quem lhe deu ao Sr. Bernardo a ousadia de requestar a filha de Leonardo Botelho de Queirós? - perguntei eu, que já o não via.

- O coração - respondeu ele.

- Qual coração nem qual diabo?! Não sei o que é o coração! O que eu sei é que o senhor atreveu-se a pôr os olhos numa senhora que não pode ser nora do seu pai, percebeu o senhor? E que há de ele dizer? Empina-se com ares de soberba ofendida, e diz de papo empavesado:

- O meu pai é um homem de bem, e eu sou filho de Maria Clara, esposa virtuosa do meu honrado pai.

- Sabes que me deram flatos de o esganar mesmo ali, e desfazer-lhe a cabeça na esquina da porta? Aposto que não entendeste a ofensa que ele te atirou à cara? Queria dizer que a mãe dele era mais honrada do que tu.

- Se ele queria dizer isso... - observou D. Clementina Pimentel - , tem razão...

- Tem razão?!

- Sim... pois que sou eu, Leonardo? Que nome me dá o





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