O Retrato de Ricardina - Cap. 15: CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE Pág. 95 / 178

- Se os prenderem - continuou o padre - , o Governo do Sr. D. Miguel há de saber pagar o serviço que fazem à moral pública, ao trono e ao altar. Os que tiverem crimes serão perdoados, que lho prometo eu, e além de perdoados eu os gratificarei liberalmente.

- Está dito - ulularam os beneméritos das prometidas graças e mercês.

- Nesse caso vão cear, e armem-se.

Retiraram para a cozinha, afora Norberto Calvo, que ficou, obrigado por um aceno que lhe fez o amo.

- Rapaz! - disse-lhe o abade, pondo-lhe a mão no ombro - , entrego-te o comando desta gente. O que ontem dissemos a respeito do Bernardo, torno a repetir-to. Lá tu, como coisa tua, diz aos de Midões que lhe atirem a segurar. O Frazão e o Torto já sabem que a minha vontade é essa. Confio de ti o bom resultado da empresa. Vocês são onze: e eles, além de não serem tantos, nem têm armas nem estão prevenidos. Vai à adega, e distribui aguardente pelos homens, para que vão bem quentes.

- Não é preciso mais nada, fidalgo?

- Mais nada.

- E se os homens quiserem roubar a casa?... Vossa Senhoria bem sabe que tudo isto são ladrões de estrada.

- Deixa-os lá: não te importes com isso. Eu não quero saber lá do que eles fazem.

- Mas, enfim, como por aí os têm visto cá em casa de vossa Senhoria... é mau que eles roubem.

- Lembraste bem, homem! O ódio até me cega que não vejo senão a minha vingança... O que eu quero é o sangue do canalha que me roubou a filha do convento e ma reduziu à sua vil condição, entendes?

- Sim, senhor.

- Vê se tens mão dos homens, caso eles queiram roubar.

- Farei o que puder - concluiu Norberto.

Enquanto os da malta ceavam e segredavam entre si uma visita à burra dos Monizes, que eles traziam desde muito de olho, Norberto,





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