A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 30 / 524

Em quarto lugar, os pombos têm sido observados e tratados com o máximo cuidado e amor por muitos povos. Foram domesticados durante milhares de anos em diversas partes do mundo; o registo mais antigo conhecido que temos de pombos pertence ao período da quinta dinastia egípcia, cerca de 3000 a.C., como me indicou o Professor Lepsius; mas o Sr. Birch informa-me que os pombos são mencionados numa ementa gastronómica da dinastia anterior. No tempo dos romanos, como sabemos através de Plínio, pagava-se somas avultadas por pombos; «mais do que isso, chegou-se ao ponto de poder determinar a sua ascendência e raça». Os pombos eram muito apreciados por Akber Khan, na Índia, cerca do ano 1600; juntamente com a corte, viajavam nunca menos de vinte mil pombos. «Os monarcas do Irão e do Turão enviaram-lhe algumas aves muito raras»; o historiador da corte prossegue, «Sua Majestade, ao cruzar as linhagens, método que nunca antes foi praticado, aperfeiçoou-as extraordinariamente». Por este período, o entusiasmo dos holandeses por pombos era tão grande como o dos antigos romanos. A importância fundamental destas considerações para a explicação da imensa quantidade de variação que os pombos sofreram será óbvia quando abordarmos o tema da selecção. Veremos então também como sucede que as linhagens têm tão frequentemente um carácter algo monstruoso. É também uma circunstância muitíssimo favorável à produção de linhagens distintas que se possa facilmente acasalar os machos e fêmeas do pombo para toda a vida; assim pode-se manter juntas linhagens diferentes no mesmo aviário.

Discuti a origem provável dos pombos domésticos com algum pormenor, ainda que muito insuficientemente; pois quando criei pombos pela primeira vez e observei os diversos tipos, sabendo





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