Segundo a teoria da descendência com modificação, a grande lei da sucessão, prolongada mas não imutável, dos mesmos tipos nas mesmas áreas, é de imediato explicada; pois os habitantes de cada parte do mundo tenderão obviamente a deixar naquela parte, durante o período de tempo seguinte, descendentes intimamente próximos, embora algo modificados. Se os habitantes de um continente diferiram outrora muito dos de outro continente, também os seus descendentes modificados diferirão quase da mesma maneira e grau. Mas, após muitos intervalos de tempo e muitas mudanças geográficas, permitindo muita intermigração, as mais fracas cederão às formas mais dominantes, e nada haverá de imutável nas leis da distribuição no passado e no presente.
Pode-se perguntar, jocosamente, se suponho ou não que o megatério e outros enormes monstros próximos deixaram na América do Sul a preguiça, o armadilho e o papa-formigas como seus descendentes degenerados. Não se pode admitir isto um instante sequer. Estes animais enormes extinguiram-se completamente e não deixaram progénie. Mas, nas grutas do Brasil, há muitas espécies extintas que são intimamente próximas em tamanho e outros caracteres às espécies ainda vivas na América do Sul; e alguns destes fósseis podem ser os efectivos progenitores de espécies vivas. Não se pode esquecer que, segundo a minha teoria, todas as espécies do mesmo género descendem de uma só espécie; pelo que, se se descobre seis géneros, cada um com oito espécies, numa formação geológica, e na formação seguinte houver outros seis géneros próximos ou representativos com o mesmo número de espécies, podemos então concluir que apenas uma espécie de cada um dos seis géneros mais antigos deixou descendentes modificados, constituindo os seus novos géneros.