Seria, certamente, motivo digno de riso e, ao mesmo tempo, de lástima, contar ao leitor os meios estranhos de que me vali para preparar o barro; as coisas caprichosas, desengraçadas e feias que fiz; a frequência com que se dividiam em bocados, pois a argila não era bastante firme para resistir ao seu próprio peso, ou então as que estalavam por tê-las exposto com demasiada precipitação aos grandes ardores solares, e as vezes que as minhas vasilhas se quebraram porque as usava antes de estarem completamente secas ou quando já o estavam de mais. Em suma: depois de me ter custado um trabalho infinito encontrar a argila, extraí-la, amassá-la, transportá-la e laborá-la, consegui apenas, após dois meses de trabalho, duas informes massas de barro, a que mal me atrevo a chamar dornas.
Apesar de tudo, estando aquelas duas vasilhas bem endurecidas pelo sol, cheguei a pô-las em pé e a colocá-las em duas grandes canastras de vime que lhes tinha preparado para não se partirem, e como enchi com palha de cevada e arroz o espaço vazio que havia entre o cesto e a vasilha, julguei que as duas dornas, conservando-se sempre secas, poderiam servir-me para guardar o grão enxuto, e ainda talvez a farinha quando o pisasse.
Embora tivesse obtido tão mau êxito na confecção das vasilhas grandes, fiz com o maior acerto grande número de pequenas, como tachos, pratos, cântaros e alguidares e todas as coisas que podia construir; o ardor solar dava-lhes uma dureza extraordinária.