Inferno - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 70 / 102

Naquela época do ano ainda jovem, em que o Sol sob o Aquário as crinas tempera e a noite e o dia repartem já o tempo ao meio, quando a geada reproduz sobre a terra a imagem da sua branca irmã, embora pouco dure a têmpera do seu pincel, o camponês, a quem os pastos faltam, levanta-se e, olhando, vê o campo todo branqueado, pelo que dá na coxa uma palmada e volta a casa e de cá para lá se lamenta como o infeliz que não sabe o que fazer, mas depois regressa e a esperança recobra, vendo que o mundo de face mudou em poucas horas, e pega no cajado e leva as ovelhas a pastar, assim me sobressaltou o meu mestre quando lhe vi a fronte tão turbada e tão logo para o mal achou remédio, pois, ao chegarmos à ponte quebrada, voltou-se para mim com o aspecto doce que pela primeira vez lhe vi no sopé do monte; abriu os braços e, após ter meditado um pouco, olhando bem primeiramente as ruínas, pegou em mim.

E, como aquele que age e ao mesmo tempo pensa, que tudo parece sempre ter previsto, assim, erguendo-me sobre o cimo de um penhasco, outro rochedo apontava, dizendo: «Agarra-te agora àquele, mas verifica primeiro se pode com o teu peso.»

Não era caminho para os que usavam capa, pois mesmo nós, sendo ele leve e estando eu por ele sustido, mal podíamos subir de pedra em pedra. E, se não fora naquele recinto a margem ser mais curta que no outro, por ele não posso falar, mas eu ter-me-ia rendido. Porém, como todo o Malebolge é em declive até à boca do poço mais profundo, a situação de cada fosso faz que a margem a seguir seja sempre menor que a anterior.





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