Inferno - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 73 / 102

Ao terminar a sua fala, o ladrão ergueu ambas as mãos, fazendo com uma e outra figas e gritando: «Toma-as, Deus, que para ti elas vão!» Desde então tornei-me amigo das serpentes, pois uma enroscou-se-lhe ao pescoço como se lhe dissesse: «Não quero que digas uma palavra mais»; e outra nos braços, sobre si própria se fechando pela frente, de tal modo o atou que qualquer movimento lhe tolhia.

Ah, Pistoia, Pistoia! Porque te não decides a converter-te em cinzas e acabar de vez, já que no mal-fazer superas os teus fundadores ?

Em nenhum dos circulas do Inferno tenebroso vi tão soberbo espírito contra Deus, nem mesmo aquele que das muralhas de Tebas caiu.

O ladrão fugiu sem dizer mais palavra; vi então um centauro cheio de ira que se acercava gritando: «Onde está, onde está o soberbo?» Não creio que haja marisma que tanta serpente tenha quantas ele levava na garupa até onde começa o nosso torso. Sobre os ombros e atrás da nuca tinha um dragão com asas abertas, que incendiava quem quer que encontrasse. Disse o meu mestre: «Este é Caco, que sob a rocha do monte Aventino muitas vezes fez de sangue um lago. Não vai com seus irmãos pelo mesmo caminho devido ao furto fraudulento que fez do grande rebanho que perto pastava, com o que terminaram as suas mas acções sob a clava de Hércules, que lhe deu cem golpes porventura, dos quais nem sequer dez sentiu.»;

Enquanto assim falava, e o outro desaparecia, três espíritos por baixo de nós se aproximaram, do que nem eu nem o meu guia nos apercebemos, a não ser quando gritaram: «Quem sois vós?» Interrompeu-se a nossa conversa e apenas neles nos fixamos. Eu não os conhecia; mas sucedeu, como costuma suceder por vezes, que um teve de pronunciar 0 nome do outro, dizendo: «Cianfa, onde ficaste?» Por isso, para que o meu guia prestasse atenção pus o dedo sobre a boca desde o queixo até ao nariz.





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