Inferno - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 81 / 102

Impeliram-me então estes fortes argumentos e, parecendo-me o silêncio ser pior, disse: 'Padre, visto que me lavas do pecado em que devo cair, sê longo em promessas e curto em as cumprir, que triunfarás na tua alta sede. Veio depois Francisco, quando morri, a buscar-me, mas um dos querubins negros lhe disse: 'Não o leves; não me faças injustiça tal. Para o profundo deverá ele vir, entre os meus escravos, pois deu conselho fraudulento e por ele o tenho desde então pelos cabelos agarrado, pois não pode absolver-se quem não se arrepende, nem se pode a um só tempo querer-se e sentir-se repeso, pois não o permite a contradição.' Pobre de mim! Como me transtornei quando me agarrou, dizendo: 'Que eu fosse um lógico não pensavas talvez! Levou-me ante Minos, que oito voltas deu com a cauda ao corpo duro e depois, devido à grande raiva, a mordeu e disse: 'Este é um dos réus que o fogo há-de ocultar!' Por isso estou, ao que vês, condenado, e assim coberto caminhando me lamento.»

Quando assim terminou a sua fala, a chama afastou-se lamentosa, retorcendo e agitando a aguda ponta. Passámos além, eu e o meu guia, sobre o rochedo, até chegar ao outro arco que recobre o fosso, onde pagam as dividas os que, lançando a discórdia, de culpas se carregam.





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