O AntiCristo - Cap. 58: Capítulo 58 Pág. 102 / 117

Contra isso se levantam duas paredes: de um lado, a revelação, isto é, a assunção de que as razões subjacentes às leis não possuem origem humana, que não foram buscadas e encontradas por um lento processo e após muitos erros, mas que possuem uma origem divina, foram feitas completas, perfeitas, sem uma história, como um presente, um milagre...; do outro lado, a tradição, isto é, a afirmação de que as leis permaneceram inalteradas desde tempos imemoriais, e que seria um crime contra os antepassados colocá-las em dúvida. A autoridade da lei assenta-se sobre estas duas teses: Deus a deu e os antepassados a viveram. — A razão superior desse procedimento está na intenção de distrair a consciência, passo a passo, de suas preocupações sobre os modos corretos de viver (isto é, aqueles que foram provados por uma vasta e minuciosamente considerada experiência), para que o instinto atinja um automatismo perfeito — um pressuposto essencial a toda espécie de mestria, toda perfeição na arte da vida. Confecionar um código como o de Manu significa oferecer a um povo a chance de ser mestre, de chegar à perfeição — de aspirar ao mais sublime na arte da vida. Para tal fim deve-se torná-lo inconsciente: esse é o objetivo de toda mentira sagrada. — A ordem das castas, a lei suma e dominante, é meramente uma ratificação de uma ordem natural, de uma lei natural de primeira ordem, sobre a qual nenhum arbítrio, nenhuma “ideia moderna” exerce qualquer influência. Em toda sociedade saudável há três tipos fisiológicos que gravitam à diferenciação, mas que se condicionam mutuamente; cada qual tem sua própria higiene, sua própria esfera de trabalho, seu próprio sentimento de perfeição e maestria.




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