XXIVAqui apenas toco superficialmente o problema da origem do cristianismo. A primeira coisa necessária para resolver o problema é a seguinte: que o cristianismo deve ser compreendido apenas a partir da análise do solo em que se originou — não é uma reação contra os instintos judaicos; é sua consequência inevitável; é simplesmente mais um passo dentro da intimidante lógica dos judeus. Nas palavras do Salvador: “a salvação vem dos judeus” (João 4,23). — A segunda coisa a ser lembrada é esta: que o tipo psicológico do Galileu (os cristãos alcunhados depreciativamente Galileus, fanáticos do Galileu) ainda é reconhecível, mas que apenas em sua forma mais degenerada (mutilado e sobrecarregado com características estrangeiras) pôde servir da maneira em que foi utilizado: como tipo para Salvador da humanidade.
— Os judeus são o povo mais notável da História, pois quando foram confrontados com o dilema do ser ou não ser, escolheram, através de uma deliberação excecionalmente lúcida, o ser a qualquer preço: esse preço envolvia uma radical falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o mudo interior e também o exterior. Colocaram-se contra todas aquelas condições sob as quais, até agora, os povos foram capazes de viver, ou até mesmo tiveram o direito de viver; a partir deles se desenvolveu uma ideia que se encontrava em direta oposição às condições naturais — sucessivamente distorceram a religião, a civilização, a moral, a história e a psicologia até as transformar em uma contradição de sua significação natural.