XXXIVSe compreendo alguma coisa sobre esse grande simbolista, é isto: que considerava apenas realidades subjetivas como reais, como “verdades” — que viu todo o resto, todo o natural, temporal, espacial e histórico apenas como símbolos, como material para parábolas. O conceito de “Filho de Deus” não designa uma pessoa concreta na história, um indivíduo isolado e definido, mas um fato “eterno”, um símbolo psicológico desvinculado da noção de tempo. O mesmo é válido, no sentido mais elevado, para o Deus desse típico simbolista, para o “reino de Deus” e para a “filiação divina”. Nada poderia ser mais acristão que as cruas noções eclesiásticas de um Deus como pessoa, de um “reino de Deus” vindouro, de um “reino dos céus” no além e de um “filho de Deus” como segunda pessoa da Trindade. Isso tudo — perdoem-me a expressão — é como soco no olho (e que olho!) do Evangelho: um desrespeito aos símbolos elevado a um cinismo histórico-mundial... Todavia é suficientemente óbvio o significado dos símbolos “Pai” e “Filho” — não para todos, é claro —: a palavra “Filho” expressa a entrada em um sentimento de transformação de todas as coisas (beatitude); “Pai” expressa esse próprio sentimento— a sensação da eternidade e perfeição. — Envergonho-me de lembrar o que a Igreja fez com esse simbolismo: ela não colocou uma história de Anfitrião (filho de Alceu – Mitologia Grega) no limiar da “fé” cristã? E um dogma da “imaculada conceição” ainda por cima?... — Com isso conseguiu apenas macular a conceção...
O “reino dos céus” é um estado de espírito — não algo que virá “além do mundo” ou “após a morte”.