LIIO cristianismo também se encontra em oposição a toda boa constituição intelectual— somente a razão enferma pode ser usada como razão cristã; toma o partido de tudo que é idiota; lança sua maldição contra o “intelecto”, contra a soberba do intelecto são. Visto que a doença é inerente ao cristianismo, segue-se disso que o estado típico do cristão, “a fé”, também é necessariamente uma forma de doença; todos os caminhos retos, legítimos e científicos devem ser banidos pela Igreja como sendo caminhos proibidos. A própria dúvida é um pecado... A completa ausência de limpeza psicológica no padre — identificada por um simples olhar — é um fenômeno resultante da decadência — observando-se mulheres histéricas e crianças raquíticas notar-se-á regularmente que a falsificação dos instintos, o prazer de mentir por mentir e a incapacidade de olhar e caminhar direito são sintomas da decadência. “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. O padre, o devoto de ambos os sexos, é uma fraude porque é doente: seus instintos exigem que a verdade jamais tenha direito em qualquer ponto. “Tudo que torna doente é bom; tudo que surge da plenitude, da superabundância, do poder, é mau”: assim pensa o crente. Uma compulsão para mentir — é através disso que reconheço todo teólogo predestinado. — Outra característica do teólogo é sua incapacidade filológica. O que quero dizer com filologia é, de modo geral, a arte de ler bem — a capacidade de absorver fatos sem interpretá-los falsamente, sem perder, na ânsia de compreendê-los, a cautela, a paciência e a sutileza. Filologia como ephexis (ceticismo) na interpretação: trate-se de livros, de notícias de jornal, dos mais funestos eventos ou de estatísticas meteorológicas — para não mencionar a “salvação da alma”...