LVIIPega-se a irreligiosidade dos meios cristãos in flagrante simplesmente colocando os fins tencionados pelo cristianismo ao lado dos tencionados pelo código de Manu — pondo essas duas finalidades monstruosamente antitéticas sob uma forte luz. O crítico do cristianismo não pode evitar a necessidade de torná-lo desprezível. — O código de Manu tem a mesma origem que todo bom livro de leis: sumariza a prática, a sagacidade e a experimentação ética de longos séculos; chega às suas conclusões, e então não cria mais nada. O pré-requisito para uma codificação dessa espécie é reconhecer que os meios usados para estabelecer a autoridade de uma verdade adquirida dura e lentamente diferem fundamentalmente dos que seriam utilizados para demonstrá-la. Um livro de leis nunca relata a utilidade, as razões, a casuística de suas leis: com isso perderia o tom imperativo, o “tu deves”, no qual a obediência se fundamenta. O problema encontra-se exatamente aqui. — Em um certo ponto da evolução de um povo, sua classe mais judiciosa, ou seja, com melhor perceção do passado e do futuro, declara que as séries experiências usadas para determinar como todos devem viver — ou podem viver — chegaram ao fim. O objetivo agora é colher os frutos mais ricos possíveis desses dias de experimentação e experiências difíceis. Em consequência, o que se deve evitar acima de tudo é o prolongamento da experimentação — a continuação do estado no qual os valores são volúveis, sendo testados, escolhidos e criticados ad infinitum.