Em minha “Genealogia da Moral” apresentei a primeira explicação psicológica dos conceitos subjacentes a estas coisas antitéticas: uma moral nobre e uma moral do ressentimento, a segunda sendo um mero produto da negação da primeira. O sistema moral judaico-cristão pertence à segunda divisão, e em todos os sentidos. Para ser capaz de dizer Não a tudo que representa uma evolução ascendente da vida — isto é, ao bem-estar, ao poder, à beleza, à autoafirmação — os instintos do ressentimento, aqui completamente transformados em gênio, tiveram de inventar outro mundo no qual a afirmação da vida representasse as maiores malignidades e abominações imagináveis. Psicologicamente, os judeus são pessoas dotadas da mais forte vitalidade, tanto que, quando se viram frente a condições onde a vida era impossível, escolheram voluntariamente, e com um profundo talento para a auto preservação, tomar o lado de todos os instintos que produzem a decadência — não por estarem dominados por eles, mas como que adivinhando neles o poder através do qual “o mundo” poderia ser desafiado.