O AntiCristo - Cap. 55: Capítulo 55 Pág. 95 / 117

Seus instintos atribuem suprema honra à moral da despersonalização; tudo o persuade a abraçar essa moral: sua prudência, sua experiência, sua vaidade. Todo tipo de fé é em si mesma a expressão de uma despersonalização, de um alheamento de si... Após se ponderar sobre quão necessários à maioria são os regulamentos restringentes; sobre quão necessária é a opressão, ou, em um sentido mais elevado, a escravidão, para possibilitar o bem-estar ao homem de vontade fraca, e especialmente à mulher, então finalmente se compreende o significado da convicção e da “fé”. Para o homem de convicção a fé representa sua espinha dorsal. Deixar de ver muitas coisas, não possuir imparcialidade alguma, ser sempre de um partido, estimar todos os valores com uma ótica severa e infalível — essas são as condições necessárias à existência desse tipo de homem. Mas isso faz deles antagonistas do homem veraz — da verdade... O crente não é livre pra responder à questão do “verdadeiro” e do “falso”; segundo os ditames de sua consciência: a integridade, neste ponto, seria sua própria ruína. A limitação patológica de sua ótica faz do homem convicto um fanático — Savonarola, Lutero, Rousseau, Robespierre, Saint-Simon — o tipo desses encontra-se em oposição ao espírito forte, emancipado. Mas as grandiosas atitudes desses intelectos doentes, desses epiléticos das ideias, exercem influência sobre as grandes massas — os fanáticos são pitorescos, e a humanidade prefere observar poses a ouvir razões...





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