Atiraram a roupa para o lado e enroscaram-se na vasta cama de mogno. Era a primeira vez que ele se despia completamente na sua presença. Até então tivera muita vergonha do corpo pálido e magro, das varizes saltadas na barriga da perna e a mancha acima do tornozelo. Não havia lençóis, porém o cobertor sobre o qual se haviam deitado era poido e liso, o tamanho e a elasticidade da cama os encheram de espanto.
- Com certeza está cheia de percevejos, mas que importa? - disse Júlia.
Não se viam mais camas de casal, exceto na casa dos proles. Winston algumas vezes dormira numa, na infância. Júlia jamais, tanto quanto podia se lembrar. Dali a pouco adormeceram. Quando Winston acordou os ponteiros do relógio indicavam quase nove. Não se mexeu, porque Júlia estava a dormir com a cabeça apoiada na curva do seu braço. A maior parte da maquilhagem se transferira para a cara dele e o travesseiro, porém uma mancha de ruge ainda realçava a beleza das maçãs do rosto de Júlia. Um raio amarelo do sol poente atravessava oblíquo os pés da cama e iluminava a lareira, onde fervia ruidosamente a água da caçarola. No pátio, a mulher se calara, porém débeis gritos de crianças ainda flutuavam no ar, vindos da rua.
Winston ficou a meditar vagamente se no passado abolido fora normal dormirem numa cama assim, na fresca de uma noite de verão, um homem e uma mulher sem roupa, fazendo o amor quando quisessem, falando do que bem entendessem, sem sentir nenhuma obrigação de levantar, simplesmente largados no leito ouvindo os ruídos pacíficos lá de fora.