Mas na última meia hora, Gordon e Rosemary não se tinham cruzado com um único ser humano. O sono dominava o campo. Custava a crer que se encontravam apenas a trinta e cinco quilómetros de Londres.
Por último, recuperaram o alento e o sangue voltou a circular normalmente nas veias. Era um daqueles dias em que sentimos que podemos percorrer duzentos quilómetros, se for necessário. De súbito, quando emergiam na estrada mais uma vez, o orvalho ao longo da vegetação da berma da estrada reluzia com um clarão diamantino. O sol perfurava as nuvens. Os raios solares dardejavam, em diagonal e amarelos através dos campos, e cores delicadas inesperadas brotavam de tudo, corno se o filho de um gigante tivesse sido deixado à solta com uma caixa de aguarelas. Rosemary pegou no braço de Gordon e puxou-o para si.
- Que belo dia!
- Belo.
- E olha para ali! Tantos coelhos, naquele campo!
Com efeito, na outra extremidade do campo, numerosos coelhos roíam a vegetação, quase' como um rebanho de ovelhas. De repente', verificou-se um rebuliço na berma. Um coelho que se ocultara entre os arbustos saltou para a relva com uma chuva de orvalho que sacudiu do corpo e correu para longe', de cauda branca 'erguida, Rosemary lançou-se nos braços de Gordon, Fazia uma temperatura cálida, quase tão quente corno no Verão. Comprimiram os corpos numa espécie de êxtase sem sexo, como crianças. Ali, ao ar livre, ele podia ver claramente as marcas do tempo no rosto dela. Tinha cerca de trinta anos, e o aspecto confirmava-o, enquanto ele, da mesma idade, dir-se-ia mais velho. Mas o facto afigurava-se-lhe destituído de importância.