- Repare nos dísticos de néon! Observe o azul por cima da loja de artigos de borracha. Quando vejo aquelas luzes sei que sou uma alma maldita.
- Exacto - proferiu Ravelston, sem lhe prestar atenção. - Ah, vem aí um táxi livre! - Ergueu o braço. Abóbora, não me viu! Aguarde aqui um momento.
Deixou Gordon junto da estação do metropolitano e cruzou a rua apressadamente. Durante uns minutos, a mente deste retrocedeu para as trevas. De súbito, percebeu-se de dois rostos duros, embora jovens, como as cabeças de animais predadores, muito próximos do seu. Tinham olheiras profundas e chapéus que constituíam versões mais vulgares do de Rosemary. Descobriu que trocava gracejos com elas, operação que parecia durar há vários minutos.
- Olá, Dora! Olá, Bárbara! - (Tudo indicava que sabia os seus nomes.) - Como têm passado? E como está a mortalha da velha Inglaterra?
- Que descaramento!
- Que fazem por aqui a esta hora da noite?
- Bem... passeamos.
- Como leoas à procura de alguém para devorar?
- Que atrevido! Não o achas atrevido, Bárbara? Que desaforo!
Ravelston descobrira um táxi e aproximou-se nele do lugar onde Gordon aguardava. Quando se apeou para o ir buscar, viu as duas raparigas e mastigou uma imprecação.
- Que demónio está a fazer, homem?
- Deixe-me apresentar-lhe a Dora e a Bárbara.
Por um momento, mostrou-se quase indignado. Na realidade, era incapaz de' se zangar a valer. Enervado, desolado, embaraçado, sim, mas nunca zangado. Avançou com um esforço penoso para ignorar a existência das duas jovens, pois se reparasse nelas deitaria tudo a perder. Assim, pegou no braço de Gordon e fez menção de o levar para o táxi.
- Venha, por favor. O táxi vai deixá-lo em poucos minutos, para poder finalmente deitar-se.
Todavia, Dora puxou-o pelo outro braço e afastou-o do alcance de Ravelston, como se fosse uma bolsa que tentavam roubar-lhe.
- Que tem você a ver com os actos dele? - exclamou, irritada.
- Espero que não pretenda insultar estas senhoras? - interpôs Gordon.