Madame Bovary - Cap. 15: VII Pág. 143 / 382

Desmaiava muito frequentemente. Um dia deitou até um escarro de sangue e, vendo Charles correr, dando a entender que estava preocupado, respondeu:

-Ora! Que importância tem isto?

Charles foi refugiar-se no consultório; e chorou, com os cotovelos em cima da mesa, sentado na sua poltrona de escritório, por baixo da cabeça frenológica.

Escreveu então à mãe, pedindo-lhe que viesse, e tiveram os dois longas conversas acerca de Emma.

Qual seria a solução? Que se poderia fazer, uma vez que ela recusava todo e qualquer tratamento?

- Sabes o que a tua mulher precisava? - prosseguia a velha Bovary. com ocupações obrigatórias, trabalho manual! Se, como tantas outras, ela se visse obrigada a ganhar o pão, não teria esses flatos que são o resultado de um monte de ideias que tem metidas na cabeça e da mandrice em que vive,

- No entanto, ela faz alguma coisa - dizia Charles.

- Ah!, faz alguma coisa! E o que é que faz? Lê romances, maus livros que até são contra a religião, em que se faz troça dos padres com citações tiradas de Voltaire. Mas tudo isso leva longe de mais, meu pobre filho, e qualquer pessoa que não tenha religião acaba sempre mal.

Resolveu-se, portanto, impedir que Emma lesse romances. A empresa não parecia nada fácil. Encarregou-se disso a boa senhora: quando passasse em Ruão, iria pessoalmente falar com o alugador de livros e dizer-lhe que Emma suspendia a sua assinatura. Não haveria o direito de avisar a polícia se o livreiro, mesmo assim, persistisse na sua actividade de envenenador?

As despedidas entre a sogra e a nora foram secas. Durante as três semanas que haviam estado juntas não tinham trocado meia dúzia de palavras, além das informações e cumprimentos quando se encontravam à mesa e à noite, quando se iam deitar.





Os capítulos deste livro