Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 151 / 382

O povo afluia à rua principal por ambos os extremos da vila. Saía dos becos, das travessas, das casas, e ouvia-se de vez em quando o cair das aldrabas atrás das mulheres, que, de luvas de algodão, fechavam as portas para ir ver a festa. O que mais se admirava eram duas longas armações de madeira cobertas de balões, que flanqueavam um estrado onde iam ficar as autoridades; e havia ainda, ao pé das quatro colunas da Câmara, quatro paus, à maneira de mastros, arvorando cada um o seu pequeno estandarte de tecido esverdeado, com inscrições bordadas a ouro. Num deles lia-se: «Comércio»; noutro: «Agricultura»; no terceiro: «Indústria»; e no quarto: « Belas-Artes».

Mas o júbilo que alegrava todos os rostos parecia entristecer a estalajadeira Lefrançois. De pé, sobre os degraus da cozinha, murmurava consigo mesma:

«Que estupidez! Que estupidez aquela barraca de pano! Pensam eles que o prefeito se vai sentir bem a jantar ali, debaixo duma tenda, como se fosse um saltimbanco? E chamam a estas trapalhadas zelar pelos interesses da terra! Para isso não valia a pena terem ido buscar tasqueiro a Neufchâtel! E para quem? Para vaqueiros, para gente de pé descalço!...»

Ia a passar o boticário. Levava uma casaca preta, calças amarelas de nanquim, sapatos de castor e, excepcionalmente, um chapéu baixo.

- Um seu criado! - disse ele. - Desculpe-me, estou com muita pressa.

E, como a corpulenta viúva lhe perguntasse aonde ia:

- Parece-lhe estranho, não é? Eu, que fico sempre mais encafuado no meu laboratório do que um rato no queijo.

- Qual queijo?

- Não, nada! Não é nada! - continuou Homais. - Só queria dizer com isto, Sr.ª Lefrançois, que costumo ficar sempre fechado em casa. Hoje, no entanto, dadas as circunstâncias, tenho mesmo de.





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