Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 176 / 382

.. Adeus! Vou para longe..., tão longe que não ouvirá falar mais de mim!... Hoje, no entanto..., não sei que força me impeliu ainda para si! Porque não se pode lutar contra o Céu, não se resiste ao sorriso dos anjos! Somos sempre arrastados pelo que é belo, encantador, adorável!

Era a primeira vez que Emma ouvia alguém dizer-lhe estas coisas; e o seu orgulho, como quem se espreguiça numa estufa, todo se dilatava brandamente ao calor daquela linguagem.

- Mas, se não vim - continuou ele -, se a não pude ver, oh!, pelo menos demorei-me a contemplar tudo aquilo que a rodeia. À noite, todas as noites, levantava-me, vinha até aqui, contemplava asua casa, o telhado que brilhava ao luar, as árvores do jardim que balouçavam à sua janela e uma pequena lâmpada, uma luzinha que brilhava na sombra, através da vidraça. Ah! Mal sabia que ali, tão perto e tão longe, se achava um pobre miserável...

Emma voltou-se para ele com um soluço.

- Oh!, o senhor é bom! - disse ela.

- Não; é que a amo, só isso! Não pode duvidar! Diga-me uma palavra! Uma única palavra!

E Rodolphe, insensivelmente, deixou-se escorregar do tamborete para o chão; mas ouviu-se o ruído de tamancos na cozinha, e a porta da sala, conforme reparou, não estava fechada.

- Como seria generosa - prosseguiu ele enquanto se levantava - se satisfizesse uma fantasia minha!

Queria ver a casa; desejava conhecê-la; e, como a Sr. Bovary não visse nisso inconveniente, ambos se levantavam, quando Charles entrou.

- Bom dia, Sr. Doutor - disse-lhe Rodolphe.

O médico, lisonjeado com o inesperado tratamento, desfez-se em obséquios e o outro aproveitou para recobrar um pouco a calma.

- A senhora estava-me falando da sua saúde... - começou ele a dizer. Charles interrompeu-o andava realmente muito inquieto a esse respeito; as opressões que sua mulher sentia recomeçavam.





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