Madame Bovary - Cap. 20: XII Pág. 220 / 382

«Decididamente», pensou Lheureux, «aqui há trapalhada.»

- E olhe - disse a Srª Bovary, tirando o relógio do cinto -, leve isto; pagar-se-á com o que lhe render.

Mas o negociante exclamou que não era preciso; conheciam-se; ia lá agora desconfiar dela? Que criancice! Ela insistiu, no entanto, em que levasse pelo menos a corrente, e já ele a metera no bolso e se ia embora, quando Emma o chamou novamente:

- Deixe ficar tudo em sua casa. Quanto ao capote - ela pareceu reflectir -, também não o traga; dê-me só o endereço do alfaiate e previna-o para que o tenha à minha disposição.

Era no mês seguinte que deviam fugir. Ela sairia de Yonville como se fosse para ir fazer compras a Ruão.

Rodolphe teria marcado os lugares, conseguido os passaportes e até escrito para Paris, a fim de terem transporte completo até Marselha, onde comprariam uma caleche e, de lá, continuariam sem parar, pela estrada de Génova. Ela teria tido o cuidado de mandar para casa de Lheureux a bagagem, que seria levada directamente à Andorinha, de modo que assim ninguém suspeitaria; e, em tudo aquilo, a filha não entrava nos planos. Rodolphe evitava falar no assunto; talvez ela já não pensasse mais nisso.

Ele quis ter ainda mais duas semanas na sua frente, para terminar alguns preparativos; depois, ao cabo de oito dias, pediu outros quinze, depois disse que estava doente; em seguida foi fazer uma viagem; o mês de Agosto passou, e, após todos aqueles atrasos, acertaram em que seria irrevogavelmente para o dia 4 de Setembro, uma segunda-feira.

Finalmente chegou o sábado da antevéspera.

Rodolphe apareceu à noite, mais cedo que de costume.

- Está tudo pronto? - perguntou-lhe ela.

- Está.

Deram então a volta a um canteiro e foram sentar-se perto do terraço, sobre o parapeito do muro.





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