«Aqui está uma palavra que produz sempre efeito», pensou ele.
Se a Emma fosse uma dessas mulheres de coração frívolo, como se vêem tantas, então sim, eu teria podido, por egoísmo, tentar uma experiência sem perigo para si. Mas essa deliciosa exaltação, causa ao mesmo tempo do seu encanto e do seu tormento, impede-a de compreender, mulher adorduel, a falsidade da nossa posição futura. Tão-pouco tinha eu a princípio reflectido nisso e descansava à sombra dessa felicidade ideal como à sombra da mançanilheira, sem prever as consequências.
«Ela vai talvez acreditar que é por avareza que renuncio... Deixá-lo!
Não faz mal! O que é preciso é acabar com isto!»
O mundo é cruel Emma. Onde quer que estivéssemos, ele perseguir-nos-ia. Teria de suportar perguntas indiscretas, a calúnia, o desdém, talvez até o ultraje. O ultraje para si! Não!... O que eu desejaria era fazê-la sentar sobre um trono! Levo a recordação da sua pessoa como um talismã! Sim, porque me puno com o desterro de todo o mal que lhe tenho causado. Vóu-me embora. Para onde? Nada sei, porque estou louco! Seja sempre boa! Conserve a lembrança do desgraçado que a perdeu. Ensine o meu nome à sua filha, para que o repita nas suas orações.
A chama das duas velas estremecia. Rodolphe levantou-se para ir fechar a janela e, quando se voltou a sentar, pensou:
«Parece-me que é tudo. Ah!, ainda mais isto, para que não venha outra vez agarrar-se a mim»
Já estarei longe quando ler estas tristes linhas, pois quis fugir bem depressa para evitar a tentação de voltar a vê-la.