Madame Bovary - Cap. 22: XIV Pág. 235 / 382

Assim, emprestando a seis por cento de juro, acrescentados de um quarto de comissão, e com os objectos fornecidos dando uma margem de, pelo menos, um terço, devia dar tudo, em doze meses, um lucro de cento e trinta francos; e esperava que o negócio não ficasse por ali, que não lhe pudessem pagar as letras, que estas fossem renovadas e que o seu dinheirinho, depois de engordar em casa do médico como numa casa de saúde, lhe voltasse às mãos, um dia, consideravelmente mais rechonchudo e aumentado a pronto de rebentar com o saco.

Aliás, tinha sorte com todas as coisas. Era adjudicatário de um fornecimento de sidra para o hospital de Neufchâtel; Guillaumin prometia-lhe acções de turfeiras de Grumesnil, e pensava em montar uma nova carreira de diligências entre Argueil e Ruão, a qual não tardaria certamente a arruinar a traquitana do Leão de Ouro e que, andando mais depressa, a preços económicos e levando mais bagagem, lhe poria assim na mão todo o comércio de Yonville.

Charles perguntou várias vezes a si próprio como seria possível, no ano seguinte, reembolsar tanto dinheiro; e procurava, imaginava expedientes, como o de recorrer ao seu pai ou o de vender qualquer coisa. Mas o pai não lhe dava ouvidos e ele, por sua vez, não tinha nada para vender. Descobria então tantas dificuldades que afastava logo do pensamento tão desagradável assunto de meditação. Acusava-se de se esquecer de Emma; como se todos os seus pensamentos pertencessem àquela mulher, não meditar nela continuamente seria como que roubar-lhe qualquer coisa.

O Inverno foi rigoroso. A convalescença da Sr. Bovary foi demorada.

Quando estava bom tempo, empurravam-na na sua cadeira para junto da janela, a que dava para a praça; pois ela agora tinha antipatia pelo jardim e a persiana desse lado ficava permanentemente fechada.





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