À noite, ao voltar para casa, Charles recapitulou, uma a uma, as frases que ela dissera, procurando lembrar-se de tudo, completar-lhes o sentido, para reconstruir o período da existência dela no tempo em que ainda não a conhecia. Mas nunca foi capaz de, em pensamento, a ver de modo diferente daquele em que a vira pela primeira vez ou em que, havia momentos, a deixara. Depois procurava imaginar no que ela se tornaria, se se casaria e com quem. Que pena! O Tio Rouault era bastante rico, e ela!... tão bonita! Mas o rosto de Emma voltava sempre a apresentar-se-lhe diante dos olhos e qualquer coisa monótona, como o zumbido de um pião, insistia-lhe aos ouvidos: «E se tu te casasses! Se te casasses» Naquela noite não dormiu, com a garganta oprimida, cheio de sede; levantou-se para beber água da bilha e abriu a janela; o céu estava coberto de estrelas, corria um vento quente e os cães ladravam à distância. Voltou a cabeça na direcção dos Bertaux.
Pensando que, afinal, não arriscaria nada, Charles tomou a decisão de fazer o pedido na primeira ocasião que se lhe oferecesse; mas, cada vez que se lhe oferecia uma, o medo de não encontrar as palavras convenientes não o deixava abrir a boca.