Madame Bovary - Cap. 24: TERCEIRA PARTE – I Pág. 269 / 382

Subitamente, porém, lançou-se de um pulo através de Quatremares, Sotteville, a Grande-Chaussée, a Rue d Elbeuf, e parou pela terceira vez diante do Jardim das Plantas.

- Pode seguir! - gritou a voz mais furiosamente.

E logo continuou a corrida, passando por Saint-Sever, pelo cais dos Curti dores, pelo cais das Mós, mais uma vez pela ponte, pelo largo do Campo de Marte e por trás dos jardins do hospital, onde os velhos de casaca preta passeavam ao sol, ao longo de um aterro todo verdejante de heras. Subiu o Boulevard Bouvreuil, percorreu o Boulevard Cauchoise e depois todo o monte Riboudet até à encosta de Deville.

Regressou; e então, sem direcção nem destino, ao acaso, foi vagabundeando. Foi vista em Saint-Pol, em Lescure, no monte Gargan, no Rouge-Mare e na Place du Gaillard-Bois; nas Rues Maladrerie e Dinanderie, em frente de Saint-Romain, Saint-Vivien, Saint-Maclou, Saint-Nicaise - em frente da Alfândega -, na atarracada Torre Velha, nos Três Cachimbos e no Cemitério Monumental. De vez em quando o cocheiro lançava do seu lugar olhares desesperados às tabernas. Não compreendia que fúria de locomoção obrigava: aqueles indivíduos a não querer parar. Tentou por diversas vezes, mas logo ouvia atrás de si exclamações iradas. Fustigava então o mais que podia as duas pilecas cobertas de suor, sem se importar com os solavancos, esbarrando ora num lado ora noutro, sem se preocupar, desmoralizado e quase a chorar de sede, de fadiga e de tristeza.

E no cais, no meio de carroções e de barricas, e pelas ruas, sobre os barcos de pedra, os burgueses arregalavam os olhos perante aquela coisa extraordinária na província: uma carruagem com os estores descidos aparecendo assim constantemente, mais fechada que um túmulo e sacudida como um navio.





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