Madame Bovary - Cap. 30: VII Pág. 338 / 382

Pôs-se a dar pequenos passeios pelo quintal, passo a passo; foi caminhando ao longo do valado e voltou para trás rapidamente, esperando que a boa mulher tivesse chegado por outro caminho. Finalmente, cansada de esperar, assaltada de dúvidas que procurava repelir, sem saber se ali estava já há um século ou apenas um minuto, sentou-se num canto, fechou os olhos e tapou os ouvidos. A cancela rangeu: ela deu um pulo; antes que tivesse tempo de falar, já a Tia Rolet dissera:

- Não está ninguém na sua casa!

- O quê?

- Ninguém! E o patrão está a chorar. Chama pelo seu nome. Andam à sua procura.

Emma não respondeu nada. Estava ofegante, relanceando os olhos em torno, enquanto a camponesa, assustada com a fisionomia dela, recuava instintivamente, pensando que estivesse louca. Subitamente levou a mão à testa e soltou um grito, pois lhe passara pela mente a recordação de Rodolphe, como um grande relâmpago numa noite escura. Era tão bom, tão delicado, tão generoso! E, além disso, se ele hesitasse em fazer-lhe este favor, ela bem o saberia constranger relembrando-lhe, num momento apenas, todo o seu amor perdido.

Pôs-se então a caminho da Huchette, sem reparar que corria a entregar-se ao que pouco antes tanto a exasperava, sem sentir a mínima suspeita daquela prostituição.





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