Madame Bovary - Cap. 33: X Pág. 371 / 382

.., depois o meu filho..., e hoje a minha filha!

Quis voltar imediatamente para os Bertaux, dizendo que não poderia dormir naquela casa. Recusou até ver a neta.

- Não!, não! Seria sofrimento de mais para mim. A única coisa que lhe peço é que lhe dê muitos beijos por mim! Adeus!... Você é um bom rapaz! E depois, nunca poderei esquecer isto - disse batendo na coxa -, não tenha dúvidas! Receberá sempre o seu peru.

Quando, porém, já ia no alto da encosta voltou-se, como se voltara outrora no caminho de Saint-Victor, no dia em que se separara dela. As janelas da aldeia brilhavam todas com o fogo dos raios oblíquos do sol, que se punha na pradaria. Colocou uma mão na frente dos olhos e avistou no horizonte um cercado de muros onde algumas árvores, aqui e além, faziam sombras escuras entre pedras brancas; depois continuou o caminho, num trote lento porque o potro coxeava.

Charles e a mãe, naquela noite, apesar da fadiga, ficaram a conversar juntos durante muito tempo. Falaram do passado e do futuro. Ela viria morar para Yonville, tomar-lhe-ia conta da casa, não se separariam mais. Foi muito habilidosa e cariciosa, regozijando-se interiormente de recuperar uma afeição que havia tantos anos lhe escapara. Soou a meia-noite.

A vila, como habitualmente, estava em silêncio, e Charles, desperto, continuava a pensar em Emma.

Rodolphe que, para se distrair, andara todo o dia batendo mato, dormia tranquilamente no seu castelo; e Léon, lá longe, também dormia.

Havia outro que, àquela hora, não estava a dormir.

Sobre a sepultura, entre os abetos, chorava um rapazola ajoelhado, com o peito despedaçado pelos soluços, arquejando na sombra, sob a pressão duma imensa saudade, mais doce que a Lua e mais insondável que a noite.





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