Madame Bovary - Cap. 34: XI Pág. 382 / 382

No dia seguinte, Charles foi sentar-se no banco, debaixo do caramanchão. Alguns raios de sol atravessavam a latada. As folhas de parreira desenhavam a sua sombra na areia, o jasmim embalsamava o ar, o céu estava azul, havia cantáridas zumbindo em torno dos lírios floridos e Charles sentia-se sufocar, como um adolescente, sob os vagos eflúvios amorosos que lhe dilatavam o coração desgostoso.

Às sete horas, a pequenina Berthe, que não o vira durante toda a tarde, foi chamá-lo para jantar.

Tinha a cabeça caída para trás e encostada à parede, os olhos fechados, a boca aberta, e segurava na mão uma longa madeixa de cabelos negros.

- Vem então, papá - disse ela.

E, acreditando que ele estivesse a brincar, empurrou-o levemente. Caiu no chão. Estava morto.

Trinta e seis horas depois, a pedido do boticário, acorreu o Dr. Canivet.

Fez-lhe uma autópsia e não encontrou nada.

Depois de tudo vendido, restaram doze francos e setenta e cinco cêntimos que serviram para pagar a viagem da Menina Bovary para casa da avó. A pobre mulher morreu ainda nesse mesmo ano; como o avô Rouault estava paralítico, foi uma tia que se encarregou de tomar conta dela. Essa tia é pobre e manda a pequena trabalhar numa fábrica de fiação para ganhar a vida.

Desde a morte de Bovary, já três médicos passaram por Yonville, sem ali se poderem manter, de tal modo foram logo atacados pelo Sr. Homais. Este tem uma clientela infernal. As autoridades tratam-no com deferência e a opinião pública protege-o.

Acaba de receber a Legião de Honra.

FIM





Os capítulos deste livro