Nas belas noites de Verão, à hora em que as ruas aquecidas estão desertas e as criadas jogam ao volante junto às ombreiras das portas, ele abria a janela e encostava-se ao peitoril. O rio, que faz deste bairro de Ruão uma reles Veneza em miniatura, corria ali, por baixo dele, amarelo, violeta ou azul, entre as suas pontes e gradeamentos. Alguns operários, acocorados na margem, lavavam os braços na água. Em grandes varas que saíam das águas-furtadas, secavam ao ar livre meadas de algodão. Em frente, para lá dos telhados, estendia-se a amplidão límpida do céu, com o sol vermelho a declinar. Como devia ser agradável estar lá fora! Que frescura se devia sentir debaixo das faias! E abria as narinas para aspirar os agradáveis perfumes do campo que chegavam até ele.
Emagreceu; ficou mais alto e o rosto adquiriu uma espécie de expressão dolente, que o tornava quase interessante.
Naturalmente, por negligência, acabou por se desligar de todas as resoluções que havia tomado. Uma vez faltou à visita; no dia seguinte faltou às aulas e, tomando o gosto pela ociosidade, pouco a pouco acabou por não voltar lá mais.
Habituou-se a frequentar a taberna, com a paixão pelo dominó. Encerrar-se todas as noites num lugar público imundo, para bater com pedaços de osso de carneiro, marcados com pintas pretas, em cima de mesas de mármore, parecia-lhe um acto precioso da sua liberdade, que lhe elevava o conceito que tinha de si mesmo. Era uma espécie de iniciação no mundo, o acesso aos prazeres proibidos; e, ao entrar, punha a mão na maçaneta da porta com um gozo quase sensual.