Sangue Azul - Cap. 1: VOLUME I – 1 Pág. 3 / 287

Três filhas, as duas mais velhas com dezasseis e catorze anos, eram uma terrível herança para uma mãe deixar; ou antes, um terrível encargo para confiar à autoridade e à orientação de um pai presunçoso e tolo. Ela tinha no entanto uma amiga muito íntima, uma mulher sensata e meritória que, movida pelo forte afecto que lhe tinha, viera instalar-se perto, na aldeia de Kellynch. E era principalmente com a sua bondade e o seu conselho que Lady Elliot contava para o melhor auxílio e a manutenção dos bons princípios e da instrução que tão preocupadamente transmitira às filhas.

Esta amiga e Sir Walter não casaram, ao contrário do que poderia ter sido previsto nesse sentido pelas suas relações. Tinham decorrido treze anos desde a morte de Lady Elliot e eles continuavam a ser vizinhos próximos e amigos íntimos - e viúvos ambos.

Que Lady Russell, de idade e carácter estáveis, e com uma situação económica muito boa, não tenha pensado num segundo casamento, é coisa que não precisa de ser justificada ao público, que tem muito mais tendência para ficar despropositadamente descontente quando uma mulher volta a casar do que quando ela não casa. Mas o facto de Sir Walter permanecer solteiro exige uma explicação. Saiba-se, portanto, que Sir Walter, como um bom pai (e tendo sofrido uma ou duas decepções íntimas em diligências muito insensatas), se orgulhava de permanecer solteiro por amor das suas queridas filhas, Por uma delas, a mais velha, teria realmente desistido de alguma coisa que não se tivesse sentido muito tentado a fazer. Aos dezasseis anos, Elizabeth herdara tudo quanto era possível dos direitos e da importância social da sua mãe; e como era muito bonita, e muito semelhante a ele, a sua influência fora sempre grande e tinham-se dado os dois muito bem juntos.





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