- Creio que nos vai saltar em cima! - disse eu enquanto armava a espingarda.
- Não dispare! Não dispare! - murmurou Lorde John. - Um tiro no silêncio desta noite seria ouvido a quilómetros em redor. Guarde a espingarda para a última cartada.
- Se ele saltar por cima da sebe, estamos prontos! - disse Summerlee, cuja voz se extinguiu num riso nervoso.
- Claro, ele não deve saltar! - disse Lorde John. - Mas não disparem ainda. Eu talvez consiga liquidar este bruto. Em todo o caso, vou tentar.
Realizou a acção mais corajosa que jamais algum homem ousou na minha frente. Inclinou-se para o lume, pegou num ramo a arder e deslizou por uma abertura de emergência que preparara na porta. O animal avançou com um grunhido assustador. Lorde John não hesitou um segundo: correu para ele e atirou-lhe ao focinho com o brandão em chamas. No espaço de um segundo tive a visão de uma máscara horrível, de uma cabeça de sapo gigante, de uma pele cheia de verrugas, de uma boca gotejando sangue fresco. Logo de seguida, o matagal deixou ouvir estalidos e a aparição sinistra desvaneceu-se.
- Tinha a certeza de que não defrontaria o fogo! - disse Lorde John a rir.
- Não deveria ter corrido um tal risco! - exclamámos todos em uníssono.