Quando emergi da inconsciência (o meu desmaio apenas durara, sem dúvida, alguns minutos) fui assaltado por um odor tão penetrante como atroz. Avancei uma mão no escuro e ela encontrou um grande bocado de carne, ao passo que a outra se fechava sobre um osso de bom tamanho. Por cima da minha cabeça desenhava-se um círculo de céu cheio de estrelas, cuja luz obscura me mostrou que jazia no fundo de uma cova. Pus-me de pé com lentidão e senti-me todo contuso: tinhas dores da cabeça aos pés, mas os meus membros mexiam-se, as articulações funcionavam. As circunstâncias da minha queda voltaram-me confusamente à memória; ergui então os olhos, receando por pavor avistar a terrível cabeça do animal perfilar-se no céu esbranquiçado. Mas não vi nem ouvi nada. Dispus-me a dar a volta à cova, para descobrir o que podia conter aquele lugar onde fora precipitado tão oportunamente.
O fundo media sete ou oito metros de largura; as paredes eram verticais. Grandes pedaços de carne ou, antes, de porcaria, tanto a sua putrefacção estava avançada, cobriam quase completamente o solo e soltavam um odor abominável. Após ter tropeçado contra estas imundícies, esbarrei em qualquer coisa dura: uma estaca solidamente cravada no meio da cova.